sábado, 16 de fevereiro de 2008

Crítica aos filmes "Quem somos nós" e "O Segredo"

Inicialmente devo esclarecer o tema dos filmes, pois eventualmente alguns de vocês poderão não conhecê-los.

O filme "Quem somos nós" fez pouco sucesso no Brasil pois não passou no cinema, mas pode ser encontrado em locadoras e circulando em meios alternativos. Trata-se de um grupo de médicos e cientistas que se juntaram para fazem um filme misturado com documentário que defende a idéia de que a física quântica explica que você pode alterar a sua realidade de maneira fantástica, só depende da força da sua mente.

O filme "O Segredo" fez mais sucesso. Ele defende uma idéia similar, de que você atrai tudo o que você pensa. Com o detalhe adicional de que essa idéia era conhecida desde a antiguidade, pois fora gravada em uma tábua de esmeralda pelo próprio deus Hermes.

Considero o caso do filme "Quem somos nós" mais grave, pois alguns "cientistas" se aproveitam da dificuldade que a grande maioria da população tem de entender os avanços mais modernos da física. Nem todos tiveram a oportunidade de estudar física quântica na faculdade, e daí essa teoria é aceita pela população sem que haja compreensão, quase que como se fosse fé.

Vou tentar driblar esse problema explicando onde a teoria do filme "Quem somos nós" erra. Há uma cena em que um menino aparece jogando basquete em uma quadra e o filme mostra que a bola de basquete tem uma probabilidade de estar em vários lugares ao mesmo tempo. É o exemplo que eles usaram para explicar o efeito da dualidade onda-partícula, explicada em 1925 por Schrödinger e Heisenberg. A luz, que é uma onda eletromagnética, apresenta em certos experimentos um comportamento de partícula, a qual chamamos de fóton. Em 1929 Luis de Broglie descobriu que os elétrons, que são partículas, também apresentam comportamento de onda eletromagnética em certos experimentos. De Broglie ganhou o prêmio Nobel concluindo que todas as formas de matéria têm propriedades ondulatórias e corpusculares ao mesmo tempo. Outra característica interessante que foi descoberta por Heisenberg, o princípio da incerteza, diz que é impossível descobrir a posição e a velocidade de um elétron ao mesmo tempo, pois quando você tenta observa um elétron, você precisa jogar luz sobre ele e esta luz acaba alterando a posição ou a velocidade do elétron. Por isso define-se apenas uma região onde há uma probabilidade maior do elétron estar. Portanto o filme tentou dizer que a "bola de basquete" teria também uma região de probabilidades de onde se localizar, e até poderia ser percebida à distância devido à sua onda eletromagnética característica. Será que você poderia então alterar a posição da bola com sua vontade, ou jogando luz sobre ela?

O problema é que não se pode extrapolar para uma bola de basquete, ou uma pessoa, os efeitos que ocorrem com elétrons e fótons. As equações que descrevem os efeitos da física quântica se tornam iguais às leis de Newton quando a massa e a velocidadeque se utilizam nelas é da ordem de grandeza de uma pessoa. Por exemplo, frequência da onda eletromagnética emitido por uma pessoa andando é muito baixa, indetectável. Somente com massas minúsculas e altas velocidades como as dos elétrons, os efeitos quânticos entram em ação. Além disso, se você jogar luz em mim isso não afetará a minha velocidade, como acontece com os elétrons, portanto não faz sentido falar na região de probabilidade da minha posição. Mas se você conseguir empurrar alguns elétrons com a força da mente, por favor me avise que eu quero ganhar o prêmio Nobel junto com você.

Referência: "Física 4 - Física Moderna, Relatividade, Física Atômica e Nuclear", Serway, 3° edição, pág 64