Pretendo fazer a tradução de um grande texto da pesquisadora Barbara G. Walker do qual gostei muito. Não é uma tarefa pequena, porém acho valioso e útil, para que as pessoas possam ler e desfrutar em português. Não sou tradutor profissinal, mas vou fazer o melhor possível.
Veja o original em http://www.skepticfiles.org/mys3/christ.htm
" O Jesus que era chamado Cristo, "Ungido", tomou seu título dos deuses salvadores do oriente médio Adonis e Tammuz, nascidos da virgem deusa do mar Aphrodite-Maria (Myrrha) ou Ishtar-Mari (em Hebraico Mariamne). Há versões mais antigas na bíblia do mesmo herói como Josué filho de Nun (Exodo 33:11), Jehu filho de Nimshi o qual foi ungindo por Elias como um rei sagrado (Reis 1 19:16) e Yeshua filho de Morah; O Livro de Enoch disse no século 2 A.C. que Yeshua ou Jesus era o nome secreto dado por Deus para o Filho do Homem (um título Persa) e que esse nome significa "Javé salva".
No norte de Israel o nome era escrito Ieu. Era o mesmo que Ieud ou Jeud, o "filho único" vestido em roupas de rei e sacrificado pelo deus-rei Isra-El. As versões gregas do mesmo nome são Iasion, Jason ou Iasus - o nome de um dos consortes sacrificados de Demeter, morto pelo Pai Zeus após o ritual de fertilidade no qual ele copulou com sua mãe. Iasus significa o curandeiro Therapeuta, que é como os gregos chamavam os Essênios, cujo grupo de culto sempre incluía um homem com o título de Cristo. O significado literal do nome era "curandeiro homem da lua", encainxando com a versão Hebraica de Jesus como o filho de Maria, a almah ou "donzela da lua".
Parece que Jesus não foi uma pessoa, mas um composto de muitos. Ele fez o papel do rei sagrado dos judeus que periodicamente morria em uma cerimônia de expiação como substituto do rei verdadeiro. As religiões semiticas praticavam imolações humanas há mais tempo que outras religiões, sacrificando crianças e adultos para satisfazer deuses sanguinários. Apesar da proibição imposta pelo imperador Adriano de se fazer estas oferendas homicidas, elas foram mantidas em certos rituais clandestinos. Os sacerdotes do Deus Judeu insistiam que 'um homem deve morrer pelo seu povo, para que uma nação inteira não pereça' (João 11:50). Javé não perdoava pecados sem derramamento de sangue '... sem derramamento de sangue não há remissão' (Hebreus 9:22).
Tradições do oriente-médio apresentam uma longa história de salvadores imolados e canibalizados, voltando até a pré-história. Inicialmente como reis, eles se tornavam então substitutos do rei ou reis 'sagrados' conforme o poder das monarquias aumentava. O Jesus dos evangelhos certamente não foi o primeiro deles, e ele pode ter sido um dos últimos. Uma passagem mostra o medo do homem santo de tal existencia condenada: 'Quando Jesus percebeu que eles viriam tomá-lo a força para fazê-lo um rei, ele partiu para a montanha sozinho' (João 6:15).
Este Jesus teve pouca ou nenhuma importância para seus contemporâneos. Nenhuma pessoa alfabetizada de sua época menciona ele em livro algum. Os evangelhos não foram escritos na época dele, e nem foram escritos por alguém que tenha visto ele em carne e osso. Os livros foram escritos após a criação da Igreja, alguns já tão tarde como no segundo século D.C. ou depois, de acordo com os requisitos da Igreja para uma tradição fabricada. A maioria dos estudiosos acreditam que o livro mais antigo do Novo Testamento é 1 Tessalonicenses, escrito pro volta de 51 D.C. por Paulo, que nunca viu Jesus pessoalmente e não sabia de nenhum detalhe da história da sua vida.
Os detalhes foram se acumulando através de adoções posteriores de mitos relacionados a cada deus-salvador encontrado no império Romano. Como Adonis, Jesus nasceu de uma donzela consagrada do templo na caverna sagrada de Belém, 'A Casa do Pão'. Ele foi comido em forma de pão como Adonis, Osiris, Dionysus e outros; ele se chamava de pão de Deus (João 6:33). Como os adeptos de Osiris, os de Jesus faziam-no parte de si mesmos ao comê-lo, para assim participar na sua ressureição: 'Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.' (João 6, 56).
Como Attis, Jesus foi sacrificado no equinócio da primavera e voltou da morte no terceiro dia, quando ele se tornou Deus e ascendeu ao céu. Como Orfeu e Heracles, ele atravessou o inferno e trouxe o segredo da vida eterna, prometendo levar todos os homesn com ele para a glória (João 12:32). Como Mitra e os outros deuses solares, ele celebrou o nascimento nove meses depois no solstício de inverno (hemisfério norte), pois o dia de sua morte era também o dia da sua re-concepção cíclica.
Dos deuses antigos Jesus adquiriu não só o título de Cristo mas todos os outros títulos também. Osiris e Tammus eram chamados Bom Pastor. Serapis era Senhor da Morte e Rei da Glória. Mitra e Heracles eram Luz do Mundo, Sol da Retidão, Helios o Sol Nascente. Dionysus O Rei dos Reis, Deus dos Deuses. Hermes era o Iluminado e o Logos. Vishnu e Mitra eram Filho do Homem e Messias. Adonis era O Senhor e o Noivo. Mot-Aleyin era o Cordeiro de Deus. Salvador se aplicava a todos eles.
Cultos de mistérios em todo o império ensinavam que homens comuns podiam ser possuídos pelo espírito desses deuses, e se identificar com eles como 'filho' ou alter-ego, como Jesus o era. Era a maneira geralmente aceitável de se adquirir poderes supernaturais, como demonstrado pelos encantamentos usados pelos magos: 'O que eu digo deve acontecer...Pois tomei para mim o poder de Abraão, Isac, Jacó e o grande deus-demônio Ablanathanalba... pois eu sou o Filho, eu ultrapasso o limite, eu sou aquele que está no sétimo céu, que está nos sete santuários; eu sou o filho do Deus vivo...eu fui unido com minha forma sagrada. Eu recebi o poder pelo teu nome sagrado. Eu recebi a Efluência da bondade, Senhor, Deus dos deuses, Rei,... tendo recebido a natureza semelhante à de Deus.'
O cético Celsus notou que pedintes e vagabundos em todo o império estavam fingindo que realizavam milagres e se tornavam deuses, exbravejando, profetizando o fim do mundo e aspirando o status de salvador:
Cada um com o conviniente e costumaz jogo: 'Eu sou deus' ou 'O filho de Deus', ou ' um espírito divino', e 'Eu vim. Pois o mundo está para ser destruído, e vocês, homens, por causa da sua injustiça, irão com ele. Mas eu quero salvá-los, e vocês me virão voltar com com poderes divinos. Bendito daquele que me adora agora! Aos outros, tanto nas cidades quanto nos campos, eu deverei jogar ao fogo eterno. E os homens que agora ignoram suas punições deverão arrepender-se em vão e gemer, mas aqueles que acreditarem em mim eu os manterei imortais.
Certamente esta doutrina 'conspicuamente falsa' era também a mensagem central dos evangelhos. A escatologia Persa passando pelo filtro Judeu-Essênico previa 'O filho do Homem vindo em uma nuvem com poder e grande glória' (Lucas 9:27, 21:27). Jesus prometeu o fim do mundo na sua própria geração. O resto do material dos Evangelhos era em sua maioria dedicado aos milagres objetivando a demonstração do seu poder divino, já que religiões geralmente 'alegam revelações, aparições, profecias, milagres, prodígios e mistérios sagrados para que elas sejam valorizadas e aceitas'. Até esses milagres eram derivados de outras religiões.
Transformar água em vinho em Canaã foi copiado de um ritual de Dionysus praticado em Sidon e outros lugares. Em Alexandria o mesmo milagre Dionysiano era regularmente mostrado para as massas de fiéis, através de um invento criado por um esperto engenheiro chamado Heron.
Invento de Heron para o truque de transformar água em vinho Centenas de anos antes, sacerdotisas em Nineveh curavam os cegos com saliva e a estória era repetida em nome de vários deuses diferentes e suas incarnações. Demeter de Eleusis multiplicava pães e peixes no papel de Senhora da Terra e do Mar. Curar os doentes, levantar os mortos, tirar o demônio do corpo, manejar serpentes venenosas (Marcos 16:18), etc, eram coisas tão comuns que Celsus desprezava estes 'milagres' cristãos como 'nada mais que os truques comuns dos encantadores que, por algumas poucas moedas (oboli) criam grandes feitos no centro do Fórum... os magos do Egito tiravam os maus espíritos, curavam doenças com um sopro, e assim influenciavam os homens sem cultura, nos quais eles produziam quaisquer visões e sons assim que eles quisessem. Mas só por causa dessas coisas, devemos considerá-los Filhos de Deus?'
Os magos sempre afirmaram que suas orações poderiam atrair bandos de seres sobrenaturais para auxiliá-los. Assim Jesus declarou que suas orações poderiam atrair doze legiões (72.000) anjos da guarda (Mateus 26:53). Os magos também comunhavam com seus seguidores com os sacramentos-padrão dos cultos-de-mistérios, o sacramento do pão-carne e o do vinho-sangue. Em textos de magia, 'o deus-mágico dá seu próprio corpo e sangue a um recipiente que ao comê-lo se une a ele no amor.'
A habilidade de andar sobre a água era afirmada pelos homens santos do oriente desde quando os monjes Budistas reconheciam esta como sendo a marca do verdadeiro asceta. Os Papiros Mágicos diziam que quase qualquer pessoa poderia andar sobre a água com a ajuda de 'um demônio poderoso'. Impossibilidades sempre foram as ferramentas da credulidade religiosa, como Tertuliano adimitiu: 'É crível porquê é absurdo, é certo porquê é impossível'.
Porém milagres repetidos não são tão críveis quanto os originais. Portanto os primeiros cristãos insistiam que todas as divindades mais antigas e suas histórias milagrosas eram invenções do diabo, pois como ele anteriormente já sabia da religião verdadeira, criou estórias de modo que os crentes ficariam confusos sabendo de 'imitações passadas'. Pensadores pagãos contra-argumentavam com a observação de que 'a religião cristã não contém nada além do que aquilo que os cristãos tenham semelhante ao pagão, nada de novo, nada realmente grandioso'. Até mesmo Santo Agostinho, achando a hipótese das invenções do diabo difícil de engolir, adimitiu que a 'verdadeira religião' já era conhecida pelos antigos, e que tinha existido desde o começo dos tempos, mas passou a ser chamada cristã depois que 'Cristo veio em carne'.
Contudo os aderentes da verdadeira religião discordavam violentamente em relação às circunstâncias da sua criação. Nos primeiros séculos D.C. havia muitas seitas cristãs mutuamente hostis, e muitos evangelhos contraditórios. Até já tardiamente no ano 450 o bispo Teodoro de Cyrrhus disse que havia pelo menos 200 evangelhos reverenciados pelas igrejas de sua própria diocese, até que ele destruiu todos exceto os quatro aprovados como canônicos. Os outros evangelhos foram perdidos conforme seitas mais fortes venciam as mais fracas, destruiam suas igrejas, matavam os crentes e queimavam seus livros.
Um Escritura, jogada fora dos canônicos, dizia que Jesus não tinha sido crucificado. Simão de Cyrena sofreu na cruz em seu lugar, enquanto Jesus estava ao seu lado rindo da cara dos carrascos dizendo: 'foi outro que bebeu o fel e o vinagre; não fui eu... foi outro, Simão, que carregou a cruz nos ombros. Foi outro em que colocaram a coroa de espinhos. Mas eu me regojizava na colina... e ria da sua ignorância'. Os crentes nessa Escritura foram preseguidos e forçados a assinar uma renúncia na qual se lia: 'Eu anatematizo aqueles que dizem que Nosso Senhor sofreu só em aparência, e que havia um homem na cruz e um outro a distância que ria.'
Alguns cristãos interpretaram o 'noli me tangere' de Jesus (não me toques) como se ele tivesse voltado da morte como um espírito incorpóreo, da maneira de outros heróis apoteóticos, como o herói irlandês Laegaire, que também disse ao seu povo que não o tocasse. Mais tarde, em um evangelho desconhecido, o escritor inseriu a estória do Tomás que duvidou, que insistiu em tocar Jesus. Isso serviu para combater a idéia herética de que não havia ressureição da carne, e também para subordinar o deus municipal de Jerusalém Tammuz ao novo salvador.
Na verdade uma das mais prováveis fontes da mitologia primária do cristianismo era o culto de Tammuz em Jerusalém. Como Tammuz, Jesus era o Noivo da Filha de Sião (João 12:15). Portanto sua noiva era Anath, 'Virgem Sabedoria Habiante de Sião', que era também a Mãe de Deus. A pomba dela desceu sobre ele no dia do seu batismo, significando (na antiga religião) que ela o escolheu para o amor-morte; Anath quebrou o cetro de junco de seu noivo, o flagelou e o furou para fruir seu sangue. Ela pronunciou sua maldição de morte, Maranatha (1 Corintíos 16:22). Assim como os evangelhos falam de Jesus, o noivo de Anath foi 'abandonado' por El, seu pai divino. Jesus chorou para El, 'meu Deus, Deus, porquê tu me abandonastes?' parece que foi uma frase escrita para o segundo ato do drama sagrado, o pathos ou Paixão (Marcos 15:34).
Certamente esta Paixão era originalmente sexual. As últimas palavras de Jesus 'está feito' vem de 'consummatum est', que seria melhor traduzido como 'está consumado', isto era interpretado como um sinal de que ele estava morto, mas poderia igualmente se aplicar ao seu casamento (João 19:30).
Como a cruz ou pilar representava o falo divino, o templo representava o corpo da Deusa, cujo 'véu' (hímem) era 'rasgado ao meio' conforme Jesus passava para a morte (Lucas 23:45). Conforme era comum nos mitos, quando um deus passava para o submundo o sol entrava em eclipse (Lucas 23:44).
Na ignorância de fenômenos astronômicos, os cristãos afirmaram que a lua estava cheia ao mesmo tempo - a Páscoa ainda é um festival de lua cheia - apesar de um eclipse do sol só ocorrer com o lado escuro da lua. A lua cheia significa a fecundação da Deusa.
A partição da roupa de Jesus se refere ao desenrolamento de Osiris quando ele surgiu da tumba como o itifálico Min, 'Marido de sua Mãe'. Se Jesus era um só com seu pai divino, então ele também casou com sua mãe e produziu a si mesmo. Uma Escritura do 4° século dizia que no mundo dos mortos ele confrontou sua mãe como a Morte, Mu. Ela era também a Noiva disfarçada de Vênus, a estrela do anoitecer, presidindo sobre a morte do sol. 'Venha. Oh amigo, daremos as boas-vindas à Noiva' (cerimônia judia que precede o Sabath).
Como os pagãos, os primeiro cristão identificavam a Noiva com a Mãe. Eles diziam que Jesus 'consumou na cruz' a sua união com a Maria-Ecclesia, sua noiva a Igreja. Augustinho escreveu: 'Como um noivo Cristo saiu de sua câmara, como um presságio de suas núpcias... Ele veio até a cama nupcial da cruz e lá, montado sobre ela, ele consumou seu casamento..., ele amavelmente se deu ao tormento no lugar da sua noiva, e ele se juntou à mulher para sempre.' João 19:41 diz, ' No lugar onde ele foi crucificado havia um jardim; e no jardim um novo sepulcro, no qual nenhum homem jamais deitou.' Um jardim era o símbolo convencional para o corpo da mãe/noiva na época; e uma nova tumba era o útero virgem, onde o deus iria nascer de novo. No terceiro dia, Jesus saiu da tumba como Attis, cuja ressurreição era a Hilaria, ou dia de Alegria. O dia de ressurreição de Jesus recebeu o nome (nas línguas anglo-saxônicas) de Eostre (Easter), a mesma deusa que Astarte, a qual os Sírius chamavam Mãe Mari.
Três incarnações de Mari, ou Mary, ficaram aos pés da cruz de Jesus, como as Moerae da Grécia. Uma foi sua mãe virgem. A segunda era sua 'mui amada' Maria Madalena. A terceira Maria deve ter sido a representação de Crone, para ser semelhante às três Norns aos pés da árvore sacrificial de Odin. As Fates estavam presentes nos sacrifícios ordenados pelos Pais Celestiais, cujas vítimas eram penduradas em árvores ou pilares 'entre a Terra e o Céu'. Até os tempos de Adriano, vítimas oferecidas a Zeus em Salamis eram ungidas com os unguentos sagrados - tornando-se assim 'Os Ungidos' ou 'Cristos'. - e então pendurados e esfaqueados na lateral com uma lança. Nada no mito de Jesus ocorreu por acaso, cada detalhe era parte de uma tradição formal de sacrifício, até na 'procissão das palmas' que glorificava reis sagrados na antiga Babilônia.
Tradições do oriente também foram utilizadas. O império romano conhecia bem os ensinamentos e dos mitos do Budismo. Imagens de Buda em estilo grego clássico foram feitas no Paquistão e Afeganistão no primeiro século D.C. Idéias budistas como 'as pegadas de Buda' apareceram entre cristãos. O bispo Sulpicus de Jerusalém disse que, como na India, 'na poeira onde Cristo andou, as marcas dos seus passos ainda podem ser vistas, e a terra ainda tem a impressão dos seus pés'. Metáforas do budismo e frases também aparecem nos evangelhos. A forma de chamar Jesus 'Querido Amado' era a forma convencional para as divindades tântricas endereçarem seus ensinamentos para as Devi, suas Deusas.
O esforço dos estudiosos de eliminar paganismo dos evangelhos de maneira a encontrar o Jesus histórico se provaram sem esperanças, como procurar caroço em uma cebola. Como uma miragem, a figura de Jesus parece clara à distância, porém falta solidez quando se aproxima. Os 'Seus dizeres' e parábolas vem de outros lugares; os 'milagres Dele' eram estórias re-contadas. Até o Pai-Nosso é uma coleção de dizeres do Talmud, muitas derivadas de antigas orações a Osiris. O Sermão da Montanha, algumas vezes dita de conter a essência do cristianismo, não possui nada original; foi feita com fragmentos dos Salmos, Eclesiastes, Isaías, Segredos de Enoch e o Shemone Esreh. Além disso sermão era desconhecido pelo autor do mais antigo evangelho, o pseudo-Marcos.
A descoberta de que os Evangelhos foram forjados, centenas de anos depois dos eventos que ele descrevem, ainda não é fato amplamente conhecido, mesmo que a Enciclopedia Católica admita, 'A idéia de um cânon completo e claramente executado do Novo Testamento existindo desde o início... não tem fundação histórica.' Nenhum manuscrito pode ser datado antes do 4° século D.C., muitos foram escritos até depois. Os mais velhos manuscritos contradizem-se, da mesma maneira que o canon atual de Evangelhos sinópticos.
A igreja deve seu cânon ao professor gnóstico Marcion, quem primero colecionou as epístolas Paulinas ao redor do 2° século. Depois ele foi excomungado como herético porque ele negou que as Escrituras eram alegorias místicas cheias de palavras mágicas de poder. As epístolas que ele colecionou já tinham cem anos de idade, isto é, se elas realmente foram escritas por Paulo; muito do material nelas foi inventado ou foi feito com interpolações forjadas.
A figura mais 'histórica' dos evangelhos é Pôncio Pilates, a quem Jesus fora apresentado como 'rei' dos judeus e simultâneamente como criminoso merecedor de pena de morte por blasfêmea porque ele chamava a si mesmo de Cristo, Filho do Bendito (Lucas 23:3, Marcos 14:61-64). Este crime alegado não era um crime real. Províncias do leste eram cheias de Cristos auto-intitulados e Messias, se chamando de Filhos de Deus e anunciando o fim do mundo. Nenhum deles fora executado por blasfêmea. O começo da estória provavelmente está na tradição de sacrifício de rei-sagrado que existia em Jerusalem muito antes da administração de Pilates, quando Roma estava tentando desencorajar estes barbarismos.
De 103 a 76 A.C. Jerusalem fora governada por Alexandre Janneaus, chamado de Aeon, o qual defendia seu trono lutando contra desfiadores. Em um ano, no Dia de Expiação, o seu povo o atacou no altar, sacudindo folhas de palmas significando que ele deveria morrer pela fertilidade da terra. Alexandre declinou a honra e instituiu uma perseguição dos sujeitos desafiadores que ele havia vencido. Um outro rei de Jerusalem tomou o nome de Menelau, 'Rei-Lua', e praticava o ritual sagrado de casamento no seu templo. Herodes também fez um casamento sagrado, e fez com que João Batista fosse morto como um substituto de si mesmo.
Se existiu um culto de Jesus em Jerusalem após 30D.C., ele desapareceu completamente quarenta anos depois quando Tacitus conquistou a cidade e proibiu vários costumes locais como o sacrifício humano. Jerusalem foi totalmente romanizada na época de Adriano. Ela foi re-batizada como Aelia Capitolina e rededicada à Deusa. O templo se tornou um santuário de Vênus. Tacitus descreveu o sítio de Jerusalem, mas seus escritos foram abruptamente cortados no momento em que as forças romanas entraram na cidade - como se os capítulos finais tivessem sido deliberadamente destruídos - de maneira que ninguém sabe o quê os romanos encontraram lá. Porém os romanos expressaram desaprovação aos sacramentos canibalísticos dos judeus e cristãos. Porfírio chamou de 'absurdo além de todo absurdo, e bestial além de toda sorte de bestialidade, que um homem comesse carne humana e bebesse o sangue de homens de seu mesmo genus e espécie, e ao fazer isso teria vida eterna'.
Do ponto de vista dos cristãos, um Jesus histórico real era essencial para a premissa básica da fé: a possibilidade de imortalidade através da identificação com a sua própria morte e ressurreição. Welhausen corretamente afirmou que Jesus não teria lugar na história a não ser que ele morresse e retornasse exatamente como os Evangelhos dizem. 'Se Cristo não tivesse levantado, a sua fé seria em vão' (Coríntios 15:17). Ainda assim, apesar de séculos de pesquisa, nenhum Jesus histórico veio à luz. Parece que a estória dele foi somente coberta de mitos; ela é mítica até o caroço.
Como todos os mitos, ele revela muito sobre a psicologia coletiva que o criou. Nas religiões pagãs anteriores, a Mãe e o Filho periodicamente depunham o Pai de seu trono celeste. O filho divino do cristianismo não estava mais desafiando o rei dos céus, mas estava se deixando domar e se submetendo à sua ordem fatal: 'Não a minha vontade, mas a tua, será feita' (Lucas 22:42). Em algumas seitas iniciais dizia-se que o Pai que pedisse o sangue do seu filho era cruel, até demoníaco. Estas seitas foram suprimidas, porém estudiosos discerniram no cristianismo 'uma atitude original de hostilidade em relação à figura paterna, a qual fora modificada nos dois primeiros séculos em uma atitude de docilidade passiva masoquista.
Se o cristianismo ortodoxo demandava subordinação do Filho, ele era ainda mais determinado em subordinar a Mãe. O Jesus do Evangelho mostrou pouco respeito pela sua mãe, o que dificultou em seu Renascimento os esforços de atrais mulheres para o culto de Maria. 'Qualquer herói que fala com sua mãe somente duas vezes, e em ambas ocasiões a chama simplesmente "Mulher", é uma figura difícil para os biógrafos sentimentais.' Junto com a oposição de Jesus ao casamento e a família (Mateus 22:30, Lucas 14:26), e ao mesmo tempo considerado-os os principais interesses da mulher, há uma tendência sexista no Novo Testamento que enojava as mulheres educadas da antiguidade.
Mas o Jesus que emulou Buda ao advogar pela pobreza e humildade eventualmente se tornou a principal figura mítica de uma das mais preeminentes organizações fazedoras de dinheiro do mundo. O cínico Papa Leão X exclamou: 'Que lucros não nos trouxe essa fábula de Cristo!'.
Teólogos modernos tendem a deixar de lado a questão de se Jesus foi de fato uma fábula ou uma pessoa de verdade. Haja vista a completa falta de evidência física, e da natureza dúbia da evidência circunstancial, parece que o cristianismo é baseado no fenômeno universal da credulidade:
Uma idéia pode ganhar e reter a áurea de verdade essencial através do contar e recontar. Esse processo doa uma amável noção com mais veracidade que uma biblioteca de fatos... Documentação tem apenas um pequeno papel em contraste com o ato de re-confirmação de cada geração de estudiosos. Além disso, quanto mais longe da época em questão, maior é a força da convicção. A incredulidade inicial é logo convertida em crença na probabilidade e eventualmente em garantia presunçosa. "