sábado, 28 de junho de 2008

As visões islãmica e cristã sobre guerra e dinheiro

Em 751 os árabes derrubaram o Império turco. Os árabes abalaram o império bizantino, destruíram o persa e fundaram o seu próprio. Somente Alexandre, o Grande, tinha conquistado territórios de extensão semelhante e com rapidez equivalente.

Os árabes injetaram na guerra uma força completamente nova, a força de uma idéia. Embrora os reis de Israel possam ter tirado força da velha promessa divina em suas guerras pequenas e locais, os cristãos da nova promessa se angustiariam durante séculos em torno da questão de saber se a guerra era moralmente permissível ou não. Com efeito os cristãos jamais encontraram unanimidade na crença de que o homem de guerra pode ser também um homem de religião; o ideal de martírio sempre foi tão forte quanto o de luta justificada e continua forte até hoje. Os árabes não estavam presos a esse dilema. Sua nova religião era um credo do conflito que ensinava a necessidade de submissão aos seus preceitos revelados e o direito de seus seguidores de pegar em armas contra os que se opunham a ele.

Maomé não era apenas um guerreiro, que fora ferido numa batalha de Medina contra Meca em 625. Ele pregava além de praticar a guerra. Estabeleceu que os muçulmanos eram irmãos e não deviam lutar entre si, mas deveriam lutar contra os outros homems até que dissessem "não há outro deus senão Alá".

De modo mais específico que Cristo, Maomé insiste que aqueles que aceitam a palavra de Deus formam uma comunidade (chamada umma) cujos membros são responsáveis uns pelos outros. Portanto deviam destinar uma renda para os irmãos menos afortunados.

Há pelo menos dois motivos para explicar a facilidade de suas primeiras vitórias. Primeiro, não há conflito no islamismo entre devoção e bem-estar material. Cristo, para grande perturbação moral de seus seguidores até hoje, considerava a pobreza um ideal sagrado. Maomé, ao contrário, fora comerciante, tinha uma compreensão aguda do valor da riqueza bem utilizada, esperava que a umma a acumulasse e julgava-a um meio de fazer o bem, tanto coletiva como individualmente. Em segundo lugar, o islã dissolveu os dois princípios pelos quais se costumava travar guerras anteriormente: território e parentesco. Não poderia haver territorialidade no islamismo, porque o seu destino era submeter o mundo todo à vontade de Deus. Islã significa submissão e "muçulmano", formado a partir da mesma palavra, alguém que está submetido a Deus.

Referência: John Keegan, "Uma história da guerra", ed. Companhia das Letras

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