O famoso físico cético americano Carl Sagan escreveu uma obra importante sobre o ceticismo chamada "O mundo assombrado pelos demônios" - editora Companhia das Letras. Nesta obra, o capítulo 12 intitulado "A arte refinada de detectar mentiras" é dedicado a métodos para desmascarar charlatanices em geral. Abaixo faço um resumo do que ele apresenta.
Ferramentas que devemos usar:
- Tentar obter confirmações independentes dos fatos apresentados.
- Fazer debate sobre evidências com representantes de todos os pontos de vista.
- Não confiar puramente na opinião de "autoridades".
- Considerar mais de uma hipótese de explicação, pensar em testes para invalidar cada hipótese; a hipótese que sobreviver aos testes é a mais provável de ser verdadeira.
- Não ficar ligado a uma hipótese somente porque foi sua idéia. Aproveite e verifique porquê você gosta dessa hipótese.
- Quantificar e comparar. O que é somente qualitativo é susceptível a muitas explicações.
- Se há uma cadeia de argumentos, todos devem funcionar, inclusive a premissa.
- A navalha de Occam: Escolha a mais simples de duas hipóteses que explique os dados com a mesma eficiência.
- Pergunte se a hipótese poderia ser, pelo menos em princípio, falseada.
- Experimentos de controle também são essenciais, por exemplo os placebos.
- As variáveis de teste devem ser separadas. Se você tomar 2 remédios para enjôo e melhorar, como saberá se ambos funcionaram e em quais proporções?
- Usar o método duplo-cego: a veracidade pode ser comprometida se você tem interesse que algo seja provado, você pode influenciar no resultado mesmo incoscientemente.
Agora veja onde não devemos tropeçar - a lista das falácias (erros de argumentação, mentiras ou "métodos avançados de advocacia picareta") mais comuns da lógica e da retórica :
- Ad hominem. Ocorre quando atacamos o argumentador e não o argumento.
- Argumento de autoridade: confiar cegamente na opinião de autoridades.
- Argumento das consequências adversas. Por exemplo: "Deve existir um Deus que confere castigo e recompensa, porque se não existisse, a sociedade seria muito mais desordenada e perigosa". Como saber?
- Apelo à ignorância: afirmação de que qualquer coisa que não se provou como falsa deve ser verdade e vice-versa.
- Alegação especial. Exemplo: "Como um Deus misericordioso castigou todas as gerações porque Adão comeu uma fruta? - Alegação especial: Você não compreende a doutrina sutil do livre-arbítrio".
- Petição de princípio. Por exemplo: "A bolsa de valores caiu por causa de realização de lucro." Parte-se do princípio que a realização de lucro sempre faça a bolsa cair?
- Seleção das observações. Como o filósofo Francis Bacon disse: contar os acertos e esquecer os fracassos.
- Estatística dos números pequenos. "Dizem que 1 em cada 5 pessoas no mundo é chinesa, mas eu conheço centenas de pessoas e nenhuma é chinesa."
- Compreensão errônea da estatística. "O presidente ficou surpreso ao descobrir que metade das pessoas têm inteligência abaixo da média."
- Incoerência. Por exemplo: Adimitir razoável que o Universo possa existir para sempre no futuro mas absurdo que tenha tido duração infinita no passado.
- Non sequitur - ou "não se segue". Exemplo: "Nosso time vencerá porque Deus é grande". O pior é que todos os times pensam a mesma coisa.
- Post hoc, ergo propter hoc - significa "Se aconteceu depois de um fato, logo foi por ele causado".
- Pergunta sem sentido. Por exemplo "O que acontece se uma força irresistível encontra um objeto imóvel?"
- Exclusão do meio termo. Por exemplo "Ame seu país ou deixe-o."
- Curto-prazo contra longo-prazo. Por exemplo: "Porque investir em ciência se temos pessoas passando fome?".
- Declive escorregadio com exclusão do meio-termo. Exemplo: "Se permitirmos o aborto nas primeiras semanas de gravidez será impossível impedir o assassinato de um bebê no final da gravidez."
- Confusão de correlação e causa.
- Caricaturar uma posição para facilitar o ataque.
- Evidência suprimida ou meia-verdade. Exemplo: Profecias apresentadas depois que aconteceu.
- Palavras equívocas. Por exemplo: políticos trocam os nomes de instituições que com seus nomes antigos se tornaram odiosas para o público.
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